“A cada 44 pessoas são diagnosticadas com autismo e, destas, apenas 85 em cada 100 estão sem trabalho”. Foi com essa informação impactante que a psicóloga Rute Rodrigues, diretora de Operações na Specialisterne Brasil, abriu sua palestra realizada na última quarta-feira (18/05), às 15h, no canal do Youtube Comunicação Energia.
A Specialisterne é uma organização social, fundada na Dinamarca em 2004. Atualmente com presença em 22 países e projetos em 50 cidades, o projeto já contribuiu, no mundo, com a inclusão de mais de 10.000 pessoas com autismo no mercado de trabalho. Rute trouxe esta experiência, que já rendeu à organização o Prêmio ODS 2019, pela Rede Brasil do Pacto Global.
“O que nós fazemos é mapear as habilidades e aptidões dos autistas e buscar colocações onde a adaptação será viável e a produtividade, boa. 85% dos autistas estão sem colocação no mercado! São pessoas que poderiam ser produtivas e não conseguem uma oportunidade. E por que incluir pessoas com autismo? Não é porque a empresa vai ter um ‘Good Doctor’! É pela humanização das organizações, pela equidade de oportunidades, valorização dos direitos humanos, e das potencialidades que essa mudança cultural traz como maior engajamento na equipe, melhores entregas”, explica a psicóloga.
Rute também relatou que no autismo existe um conjunto de características que formam o diagnóstico, os padrões de comportamento são diversos o que impede uma fórmula fixa para as terapias, e que muitas pessoas adultas sequer sabem que possuem o espectro. “A gente vê várias pessoas da vida adulta sem diagnóstico. Em um levantamento interno, chegamos a observar que 50% dos adultos autistas descobriram o diagnóstico depois dos 19 anos. Isso é bem preocupante, pois o ideal seria iniciar o acompanhamento a partir dos 2 anos”.
Uma das adaptações mais significativas para receber profissionais com autismo, contudo, segundo Rute, é trabalhar para que a comunicação seja muito clara. “Por exemplo, um gestor entrega uma tarefa e diz ‘quando você tiver um tempinho sobrando, faça essa atividade’. Passa duas semanas, o gestor não recebe o trabalho e vai lá cobrar. ‘Cadê a tarefa que eu pedi?’. Naturalmente, o autista pode simplesmente responder: ‘não tive um tempinho sobrando’. Ou quer conversar e pergunta se quer tomar um café. A resposta pode ser não, ao café. Se quer conversar precisa dizer que precisa conversar, a hora e o dia”.
Por isso, é necessário uma preparação e um treinamento com as pessoas que vão trabalhar com o profissional autista. “Desde o onboarding, com as principais informações até o suporte, tanto para informar quanto para formar essas pessoas para lidar com essas situações. E o ganho é muito mais amplo, pois se descobre que mesmo pessoas sem ter autismo possuem habilidades específicas que podem ser melhor aproveitadas com empatia”.
O evento, aberto ao público e totalmente gratuito, encerrou as ações da Campanha Abril Azul, com palestras e debates sobre o tema autismo, realizada desde o início de abril, pelas empresas Linhares Geração, PHC do Braço, Povoação Energia, Tevisa e Tropicália Transmissora, com foco no compartilhamento de informações sobre o autismo para conscientização, respeito e acolhimento.
A palestra está disponível na íntegra no Youtube! Espectro Autista e o mercado de trabalho
Publicado por KICk