A PCH Braço, ao lado das outras empresas do Grupo, promoveu a palestra virtual “Diversidade, Inclusão e Espaços Seguros” na última semana de junho, Mês do Orgulho LGBTQIAPN+, O encontro, ocorrido no dia 28, em transmissão ao vivo, teve como convidada a consultora em liderança inclusiva Tamara Braga, CEO do DiverCidade.
Tamara, de 29 anos, é uma mulher negra, bissexual e neurodivergente, nascida em uma comunidade carente do Rio de Janeiro. É uma profissional com mais de oito anos de experiência progressiva em Gestão de Talentos, Diversidade e Inclusão, Atração e Recrutamento de Talentos, Universidade Corporativa e Gerenciamento de Projetos. Formada em Engenharia Química e pós-graduada em Sustentabilidade e em Liderança Inclusiva e Acessibilidade Digital, graças ao sistema de cotas, cursa atualmente uma pós-graduação em Saúde Mental e ESG.
A conversa foi mediada pelo analista de Comunicação das empresas do Grupo, Osvaldo Santos, e foi traduzida em Libras, em tempo real, pelo intérprete Danilo Soares, a fim de tornar a live mais inclusiva. O conteúdo está disponível na Comunicação Energia , onde pode ser acessado na íntegra.
A CEO do DiverCidade introduziu a sua palestra com uma pergunta: somos todos iguais, como está estabelecido na Constituição? Dentro da realidade de desafios e barreiras impostos a grupos com menos oportunidades, ela responde: não.
“Falar que todos são iguais denota um pouco de injustiça para pessoas que demandam adaptações e ajustes, pois os ambientes não estão preparados para essas pessoas. A gente poderia falar que todas as pessoas são iguais se todos os espaços fossem preparados para todo mundo, mas não são”, defende.
Ela prosseguiu a explanação desmistificando a ideia errônea de diversidade conservada por muitos. O conceito, salienta, precisa abarcar a todos, inclusive sujeitos que não são representados em grupos minoritários. “Diversidade é todo mundo. A ideia é não sair demitindo pessoas que não façam parte de nenhum recorte e contratar pessoas que fazem parte de um recorte. A ideia é promover uma comunhão, em que todas as pessoas sejam representadas. a representatividade geral.”
Em outro ponto da sua apresentação, ela detalhou os grupos representados nas letras LGBTQIAPN+, a comunidade de pessoas com orientação afetivo-sexual e identidade de gênero que divergem da normatividade ou, seja, de pessoas heterossexuais e/ou cisgêneras. São lésbicas; gays; bissexuais; transgêneros; queer; intersexuais; assexuais; pansexuais; e não binárie.
A jovem estabeleceu, ainda, a definição de uma pessoa cis e de uma pessoa trans, informação que muitos só têm contato – quanto têm – muito tardiamente.
“Desde quando você sabe o que é uma pessoa cis?”, provocou. Só descobri que era uma pessoa cis [aquela que se identifica com o gênero que é designado quando nasceu] quando conheci uma pessoa trans [aquela que não sente pertencente ao gênero atribuído socialmente ao seu órgão sexual]. A partir do momento em que a gente conhece outros corpos, começa a identificar padrões sobre como a gente é construído a pensar que é o natural, o normal. Mas não existe isso. Na real, existem pessoas cis e pessoas trans, e a gente precisa se abrir para entender isso.” Por isso, frisa, “outros corpos, outras necessidades”: é necessário conhecer a realidade social para transformá-la.
Ela também explicou os conceitos de gênero, afetividade, sexualidade e expressão de gênero e expôs estatísticas que mostram o quanto o preconceito está enraizado na sociedade. Entre os dados, está o alarmante baixo índice de expectativa de pessoas trans, que é de apenas 35 anos no Brasil.
Tamara falou ainda sobre o conceito de passabilidade. O termo aponta se é possível transitar por espaços que não fogem à heteronormatividade sem ser discriminado. As barreiras são diferentes. Para lésbicas, gays, bissexuais e assexuais, apesar da alta carga de preconceito que possam vir a sofrer, o caminho é um pouco menos doloroso, por não terem seus corpos tão sujeitos a julgamentos e violência. Para trans, travestis e não bináries, o ataque é maior, justamente pela explicitação de sua identidade de gênero não cis.
Feminino
Ainda sobre a questão de oportunidade e barreiras, Tamara acrescenta que tudo que é muito linkado ao feminino acaba sendo distanciado das possibilidades no ambiente profissional. “Não faz sentido a gente usar nossos preconceitos e vieses inconscientes para tomar decisões dentro do mercado de trabalho. O que a gente está olhando na hora da avaliação de performance e do processo seletivo? O que o fato de a pessoa ser afeminada diz sobre ela é em relação à produtividade, resultado e entrega?”, questiona.
Osvaldo Santos trouxe para a conversa a sua própria vivência profissional como homem gay. Em outras empresas em que passou, ouvia pessoas da equipe falarem de seu modo não afeminado, “normal”, como se isso fosse um elogio, quando na verdade fere pessoas. Mesmo assim, sentiu na pele o preconceito por ser homossexual. “Já saí de trabalhos em que senti preconceito. Duas semanas depois de ser admitido, saí de um trabalho por causa de piadinhas.”
A exposição em tentar parecer semelhante ao padrão heterocisnormativo adoece, alerta Tamara, e leva pessoas LGBTQIAPN+ a verem sua saúde mental em descompasso. Depressão, Burnout, crise de pânico e ansiedade são alguns dos problemas que surgem diante transfobia, homofobia e todo tipo de discriminação.
“As avaliações de performance e enviesadas não levam em consideração a saúde ambiental e esse contingente laboral. É preciso desconstruir os vieses para poder tomar decisões.”
Na parte final da palestra, a convidada falou sobre como as pessoas LGBTQIAPN+ podem se organizar para desenvolver uma comunidade segura no ambiente de trabalho. Ela cita, sobretudo, a construção de uma rede de apoio e fortalecimento, desenvolvimento para liderança e eventos de conscientização.
Sobre o papel de pessoas não pertencentes à comunidade LGBTQIAPN+ que querem se aliar às causas, ela orienta: aposte na inteligência cultural, tenha coragem, seja anti-homofobia. reconheça seus privilégios e acesso e comprometa-se e apoie as lutas.
Também na final, Tamara se emocionou ao exibir um vídeo da campanha produzida pela Young & Rubicam e produzido pela FAUNA para narrar a história da roteirista transexual Uni Corrêa, vídeo que mostra os percalços da população trans.
Publicado por KICK